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“Um só pedal mil fios move,
Nas lançadeiras que vão e vêm,
Urdem-se os fios despercebidos
E a trama infinda vai indo a
lém.”


(Goethe, Fausto, Parte I, Cena 4, citado por Freud na descrição do sonho relativo à monografia da botânica
(
Interpretação dos Sonhos, vol. 1)

​Fios são a metáfora da vida - A trama da vida.

O ato de tecer é ancestral e se confunde com a própria história da humanidade. Tear é o instrumento usado pelo tecelão através do qual transforma fios aparentemente aleatórios em peças únicas.

 

Tomamos como partida o laço linguístico que existe entre texto e tecido: ambas as palavras provém da mesma raiz etimológica do latim texere: o verbo tecer e o substantivo texto, aquilo que é tecido; trama, enredo, novelo, novela, fio da meada...

Assim, tecer e narrar – já que a tradição oral vem antes da escrita - são ações que dialogam intimamente, posto que somos seres atravessados pela linguagem.

 

Um significante é algo da narrativa de um sujeito, que o representa; é um vazio por atestar uma presença passada. Lacan, referindo-se ao conteúdo inconsciente do sonho, caracteriza a rede de significantes como “o tecido que engloba a mensagem dos deuses”.

 

Dos mitos gregos ao nosso folclore, entre contos e histórias universais presentes em todas as culturas, o viver e o morrer são contados por fios e tramas, através de personagens como as Moiras, o mito de Aracne, os teares de Circe e de Penélope, o fio de Ariádne, o tapete voador dos contos das mil e uma noites, Uttu, a deusa tecelã, as nossas rendeiras e bordadeiras que, pelo seu fazer manual transmitido de geração a geração, nos ensinam a arte de tecer a vida; uma forma de, miticamente, bordear e reinventar os enigmas da existência. Outra maneira de afirmar, ainda, nossa condição de humanidade.

Como prática milenar, é um oficio relacionado ao universo feminino; o feminino presente em todos nós, homens e mulheres que, anonimamente, realizam a tarefa de tecer o mundo.

“O passado, o presente e o futuro são entrelaçados pelo fio do desejo que os une.”

(Freud, in escritores criativos, vol. IX.). 

Tecer é trabalho minucioso tal como o trabalho de elaboração do inconsciente. A evocação do trabalho do tecelão como metáfora do trabalho onírico na obra de Freud é admirável: diz ele que dessa “fábrica de pensamento, convergiam numerosas cadeias de ideias” na qual o trabalho do inconsciente tece e elabora aqueles mil fios que, invisíveis, estruturam com sua lógica o acontecer psíquico. 

E como nenhuma renda tem pressa para ser concluída, o trabalho de uma análise também tem seu tempo próprio e requer desejo, paciência para desmanchar os nós, coragem para expor os avessos, insistência para, ponto a ponto, seguir quem sabe, inventando outras tramas.

 

Como tecelãs de fios e de palavras, nos servimos destas analogias potentes de significantes e significados para pôr em marcha este projeto, deixando a trama sempre aberta para outras contribuições dentro e fora do campo psicanalítico.

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